Brasil não está preparado para os elétricos
Brasil não está preparado para os elétricos
Recentemente a BMW anunciou a chegada do elétrico i3 ao País com tabela partindo de R$ 225.950. Outro modelo que será integrado em breve na categoria dos híbridos e elétricos é o Mitsubishi Outlander. A grande questão é: será que o Brasil está preparado para receber modelos que precisam ou que são ajudados pela eletricidade para se locomover?
De acordo com o diretor do comitê de Veículos Elétricos e Híbridos do congresso SAE Brasil, Ricardo Takahira, ainda não. Atualmente, o País oferece poucos pontos de recarga. “Em Paris, por exemplo, os pontos são disponibilizados em locais públicos, assim como na Califórnia”, acrescenta. Outro fator crucial apontado pelo engenheiro é a dependência do País pela eletricidade gerada por meio de recursos hídricos. “Se não houvesse escassez em momentos de secas, talvez fosse diferente”, lembra ele.
Porém, além dos poucos pontos de abastecimento e do baixo volume de eletricidade, há outras questões que emperram o deslanchar dos modelos mais “limpos”. Os incentivos para as fábricas importarem os modelos são mínimos. Um exemplo está no valor de tabela do i3, o dobro do concorrente (em termos de tamanho) Audi A1, movido a gasolina. Em São Paulo, capital, o máximo de benefício que se conseguiu foi a liberação do rodízio municipal e uma redução de até R$ 10 mil no IPVA.
Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), Ricardo Guggisberg afirma que só com a popularização da mobilidade elétrica é que teremos um aumento na demanda desse tipo de veículo no país, o que fará com que ele se torne cada vez mais acessível no mercado.
Abastecimento. As iniciativas para recarregar modelos plug-in são pequenas ou restritas a empresas. Em São Paulo, na zona oeste, o Shopping Villa Lobos, disponibiliza aos seus clientes uma vaga com um ponto para recarga desde abril de 2012. O abastecimento é uma cortesia do centro de compras, mas tem ficado pegando poeira.
A gerente de negócios da Tecnisa, Liat Ciobotariu, aponta que a construtora disponibiliza em alguns empreendimentos vagas na garagem com tomadas para recarga de elétricos. Porém a procura é baixa. “Em um dos empreendimentos lançados por nós, apenas um morador aderiu a tomada extra na compra do imóvel”, salienta. O projeto prevê um espaço físico na garagem para a estação e um “relógio” de luz para o rateio entre os proprietários que utilizam a tomada.
Já a AES Eletropaulo implantou cinco carregadores de carga rápida distribuídos nos estacionamentos de concessionárias da Nissan. A iniciativa que envolveu a compra destes carregadores e a adequação de rede da distribuidora exigiu R$ 1 milhão de investimento. O programa faz parte de uma parceria entre a Prefeitura de São Paulo, a Nissan e o SindiTaxi, que usa a rede para abastecer a frota composta por 10 Leaf. O tempo para carregar 80% da bateria varia de 18 a 22 minutos.
Em Campinas, interior de São Paulo, há um programa desenvolvido com a CPFL Energia que consiste em viabilizar para as empresas a utilização de frotas elétricas, cedendo veículos e instalando eletropostos. Conforme estatísticas da CPFL, os seis veículos da frota que atendem seis empresas percorreram 14.738 quilômetros e consumiram 2.450 KWh de energia elétrica, o que equivale ao consumo aproximado de 12 residências durante um mês. Os veículos deixaram de emitir 1.61 ton/CO2 na atmosfera, o que representa retirar das ruas aproximadamente 27 carros populares que rodem 15 quilômetros por dia durante um mês. O custo desse consumo de energia elétrica nos veículos foi de R$ 850. O custo para um carro convencional, a combustão, seria de R$ 2.800, considerando o uso do etanol. Abaixo, um exemplo do modelo oferecido pela CPFL para a empresa que aderir ao programa.
Dois postos de abastecimento no Rio de Janeiro, na zona oeste, de bandeira Petrobras, também possuem uma unidade abastecedora de carga elétrica rápida, cada um, conseguindo gerar até 80 % da carga das baterias dos veículos em até 30 minutos. O valor é pago conforme o tempo de abastecimento.
Futuro. De acordo com a ABVE, 3 milhões de veículos leves elétricos deverão estar em circulação no mundo em 2020. Em 2025, serão 10 milhões e, em 2030, esse número deve chegar a 19 milhões de unidades. Outro ponto que pode contribuir a favor dos elétricos é a possível obrigatoriedade de pontos de recarga em áreas públicas. A medida foi proposta por meio de projeto de lei aprovado no início de abril pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados e agora segue para apreciação do Senado.
“Os carros híbridos e elétricos só existem porque há normas rígidas de emissões. Ninguém compra carro mais caro por estar preocupado com a natureza ou ambiente”, ressalta Takahira. Outro detalhe apontado pelo engenheiro é que as associações dos fabricantes estão lutando por maiores incentivos. Uma das saídas seria a inclusão destas tecnologias como forma de compensação do Inovar-Auto.
Para Takahira, outro entrave para a chegada em massa dos elétricos está na utilização do etanol em nossa gasolina. “A tecnologia desenvolvida por nós permite uma baixa emissão de CO2, principalmente, se comparada com os modelos movido somente a gasolina”, acrescenta. Justamente por isso não há tanta urgência nos programas nacionais quanto às emissões de poluentes.
Estadão
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