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Carrofobia: como vencer medos ao dirigir

Carrofobia: como vencer medos ao dirigir


Encarar ladeiras, fazer baliza, dirigir sob chuva ou em rodovias são um tormento para muita gente. Veja dicas para superar esses medos.


O medo de situações corriqueiras ao volante pode se transformar em motivo para que algumas pessoas deixem de guiar. Há quem fique inseguro com a possibilidade de encarar ladeiras, estradas, chuva ou mesmo estacionar. Muitos temem outros motoristas, algo que vem aumentando com o maior número de carros nas ruas e com a falta de educação ao volante.

“Medo e fobia são diferentes”, diz a psicóloga Cecilia Bellina, dona da autoescola que leva seu nome e atende pessoas habilitadas que têm medo de dirigir. “O medo é uma emoção boa, pois é protetora”, diz. “Quando o excesso de cuidado atrapalha a vida, é porque se tornou uma fobia, e precisa ser tratada.” A fobia a carros é chamada de amaxofobia.

Cecilia afirma que são três os principais medos relacionados à ação de dirigir. Em primeiro lugar, está o de errar. O segundo fator que mais assombra os motoristas, segundo ela, são as subidas. Em terceiro aparecem as manobras ao volante.

Proprietário do centro de pilotagem que leva seu nome, Roberto Manzini acrescenta que a maioria das pessoas tem medo do equipamento (carro). “Elas não sabem dominá-lo, e precisam aprender”, afirma.

Motivos

A razão mais comum para a amaxofobia, segundo Cecilia, é o estresse traumático. No geral, isso ocorre com quem já sofreu um acidente. É o caso da técnica de enfermagem Vanessa Carvalho, que deixou de guiar em estradas depois de uma colisão. Ela ficou com medo de velocidade. “Se eu passo dos 60 km/h, começo a tremer, e já tive de parar o carro. Por isso, não consigo atingir velocidades seguras para andar em rodovias.”

Por causa da fobia, Vanessa teve de mudar de emprego. “Só guio dentro da minha cidade, Bragança Paulista, e eu trabalhava em Atibaia (ambas no interior)”, conta. “Eu tinha de pegar quatro ônibus e perdia quatro horas do dia.” Ela já fez terapia para tentar vencer esse medo. “Não adiantou”, conta.

Já a dona de casa Maria Aparecida Silva conseguiu vencer sua fobia de volante. Após sofrer um acidente, ela passou e ter pavor de dirigir. “Eu tinha medo dos outros motoristas, e ainda hoje tenho um pouco, mas não deixo mais isso me afetar.”

Maria conta que, após o acidente, quando ia guiar, seu corpo todo doía. “Eu contraía demais o maxilar.” Ela procurou ajuda psicológica convencional e, 15 anos após o acidente, começou a fazer aulas de direção para pessoas habilitadas.

Nada adiantou, e então ela partiu para o treinamento que inclui ajuda psicológica junto com enfrentamento do medo (leia mais na próxima página). Após um ano e meio de tratamento, ela voltou a guiar. Hoje, dirige em qualquer situação.

O jornalista Alexandre Cossenza considera seu medo saudável. Ele foi assaltado três vezes ao volante. Em uma das ocorrências, foi vítima de sequestro relâmpago. Em outra, acabou batendo o carro na tentativa de fugir da abordagem.

Depois disso, o morador de Petrópolis (RJ) passou a ter medo de guiar em alguns locais do Rio de Janeiro, onde os assaltos ocorreram. “Mas não deixo de fazer nada por causa disso. Apenas fico sempre bastante atento aos espelhos (retrovisores) e evito rodar em algumas ruas, principalmente à noite, quando isso é possível.”

Quando o medo não tem causa

De acordo com a psicóloga Cecilia Bellina, autora do livro “Dirigir sem medo” (Casa do Psicólogo, 123 páginas, R$ 19), muitos temores relacionados ao ato de guiar o carro não são desencadeados por traumas. “Eles têm a ver com a personalidade da pessoa, ou com algumas situações cotidianas (leia mais abaixo).

É o caso da turismóloga Julia Campos, que não dirige por medo de enfrentar subidas. Ela não sabe como o medo surgiu, mas desde que tirou a CNH, há seis anos, não teve coragem de guiar por medo de passar por ladeiras. “Não consigo acreditar que o carro terá a potência necessária para desafiar as leis da física.”

Desde que se mudou de Buenos Aires para Porto Alegre, no início do ano, Julia se sente prejudicada pela falta de coragem de guiar. “A cidade tem transporte coletivo ruim e muitas subidas, o que dificulta a missão de andar a pé”, afirma ela. “Tenho de usar demais o Uber, para levar meu filho (de seis anos) a diversos compromissos, e estou gastando demais.”

Julia acredita que conseguirá vencer esse medo quando for tirar a CNH brasileira. “Em Santiago (onde ela se habilitou), é muito fácil conseguir a licença”, diz. “Aqui, acredito que terei aulas práticas em que vou aprender a lidar com subidas, então talvez dê certo.”

A publicitária Fernanda de Paula também não sabe identificar a origem do medo que tem de guiar na chuva. “Eu entro em pânico se não tiver boa visibilidade. Na estrada, não dirijo à noite também”, conta.

Fernanda diz que sempre tem a sensação de que vai morrer quando está guiando em rodovias e começa a chover. “Já me coloquei em situações de risco. Certa vez, acionei os freios do carro e quase parei em plena estrada. Se minha mãe, que estava ao lado, não tivesse gritado comigo, provavelmente teríamos sofrido um acidente.”

Encarar o problema ajuda a superá-lo

Além do estresse traumático, características da personalidade de cada um também podem levar ao medo de dirigir, de acordo com a psicóloga Cecilia Bellina. “É uma fobia que costuma acometer as pessoas ansiosas, pois elas pensam muito nas consequências antes de fazer a ação, e carro pode ser realmente perigoso”, diz.

“Pessoas autocríticas e cuidadosas também estão nesse grupo, pois elas não aceitam errar, e dirigir é algo que as deixa muito expostas”, afirma. “Não dá para esconder o erro.”
Outro fato que leva ao medo é a negligência da autoescola, na opinião de Cecilia. “Elas não ensinam ninguém a dirigir, apenas a passar no exame.”

O instrutor de pilotagem Roberto Manzini concorda. “Antes do teste, aprende-se a fazer baliza, subir rampas e pronto. Isso não é saber dirigir. É preciso aprender a dominar o carro, e entender que o equipamento não é ‘vivo’. Ele vai atender aos comandos do condutor.”

O centro de pilotagem de Manzini oferece aulas específicas para pessoas com medo de guiar. “Na maioria das vezes, saber dominar o carro ajuda. Quando isso não ocorre, encaminhamos o aluno para um psicólogo”, conta.

A escola de Cecilia Bellina é especializada em ajuda psicológica por meio do enfrentamento. “É preciso identificar a origem do trauma e depois confrontá-lo”, diz Cecilia. “Se uma pessoa tem medo de subidas, vamos levá-la para guiar em rampas até que ela vença isso.” A psicóloga também aponta a falta de educação dos motoristas com um fator que intimida quem tem medo de guiar.

Homens e mulheres sofrem com isso

Na clínica de Cecilia Bellina, 85% do público é feminino. “É cultural”, afirma ela. “O homem, desde criança, se identifica com carros. Eles têm vergonha de assumir o medo de guiar e de procurar tratamento.” De acordo com ela, a maioria das mulheres considera o carro apenas como um instrumento para facilitar a vida. “Homem gosta de encarar o desconhecido. Já a mulher quer aprender a dominar o carro”, afirma o instrutor de pilotagem Roberto Manzini.

Eletrônica é uma aliada

Vários veículos têm recursos que ajudam o motorista a transpor obstáculos que podem gerar medo de guiar.

CHUVA
O controle eletrônico de estabilidade (ESP), que está em compactos como Ka e Etios, ajuda a manter a aderência das rodas. A tração 4×4 por demanda garante segurança sob chuva.

SUBIDAS
O câmbio automático facilita a vida de quem teme “rampas”. Não há embreagem e não requer usar o “freio de mão” para sair. Basta escolher a posição “Drive” e soltar o freio para o veículo começar a se andar. O assistente de saída em rampas, disponível até em carros manuais, como o Fiesta, controla a partida sozinho e evita que o veículo volte de ré.

MANOBRAS
Sensores de obstáculos, que equipam desde os modelos mais simples, emitem sinais quando o carro se aproxima muito de outro ou de uma barreira, como uma parede ou pilar. Assim como as câmeras, ajudam muito na hora da baliza. Há ainda sistemas que estacionam o carro com mínima intervenção do motorista ou mesmo sozinhos.


Fonte: Jornal do Carro

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